Tempos atrás, o jogador de futebol brasileiro fazia um gol e se benzia dez vezes antes de abraçar o companheiro que lhe dera o passe. Dizia-se pelas rádios que o “craque” em questão era temente a Deus ou fazia o gesto mecanicamente, como fazia ao pé da cama antes de dormir, por orientação de seus pais: “Graças a Deus!” Pois bem, o tempo passou e ele não deixou o vício, ao contrário, aperfeiçoou-o televisivamente. Alguns carregavam a imagem de Nossa Senhora sob a camisa como prova inconteste e visível de sua devoção; fosse pouco, os gols não viessem na partida seguinte, estampavam a figura do Senhor Jesus no peito — afora as mandingas, patuás, crendices, três pulinhos e o pé direito para entrar em campo. Deus o proteja! Mas ainda lhes parecia pouco, seria preciso provar a sua fé, a sua religiosidade, não bastava apenas o sinal da cruz, os crucifixos, as imagens, começaram a tatuar no corpo frases, dizeres, afazeres, pedindo proteção, somente para ele e para a sua equipe — claro está —, porque somente eles tinham o direito de ter Deus no coração e mereciam toda a glória. Para alguns, deve ter surtido efeito, afinal até gol de mão foi feito num jogo de copa do mundo: “A mão de Deus”. Menos com os pés, é verdade. “Deus é Fiel!” Mas Deus deve ter reclamado da falta de comprometimento desses jogadores para com Ele. Ainda que o campo também seja laico, agora toda vez que um jogador faz um gol, convoca os demais e correm todos… Não, não vão comemorar com a torcida; vão para o meio do campo, onde se ajoelham e se abraçam e, orquestradamente, apontam os dedinhos inocentes aos céus para agradecer a glória alcançada. Deus está no comando? Talvez seja um técnico oculto. E aproveitam para pedir a Ele mais um tento… Acreditam que somente eles, jogadores desse time, merecem tal recompensa, ainda que, na próxima semana, estejam defendendo as cores da equipe adversária e beijando o novo escudo, ‘Graças a Deus!’”

      Mas, afinal, eu lhes pergunto: para qual time Deus torce?

      Vá saber!